quinta-feira, 27 de abril de 2017

reponteio

Fora necessário e será
Assim como sempre é
Retornar pelas pontes
As concretas e virtuais
Capilares e artérias
Plurais!

Ponte entre amores e cidades
Ponte entre rimas e entre divisas
Ponte entre chegadas e entre partidas.

Retornar pelos três rios que cruzávamos
Doce, Cricaré e Mucuri
Outros ainda menores, aqueles ainda primários
Retorná-los por onde quer que fosse.

Reabri-los onde não pode o encontro
Pelo único caminho que só pode o ser humano
Rios unidos para sempre na memória - este oceano. 
aquele que pintava o corpo 
de estações
aquele moço que andava torto
carregava as emoções
em meio aos seus pertences 
rotos, amargados em sacos
que dormia em calçadas
a pele fria, o vento forte
e o verbo fraco

aquele que andava pintado
de branco
marrom
amarelo
preto
azul
cores que tingiam a pele
e disfarçavam
a sua identidade, seu nome
seu endereço, seu retrato

quem era aquele que andava
silencioso como anda um caminhante
encerrado em seus fones de ouvidos
celulares, preocupações e sonhos
em silêncio como nós no calçadão 
ele andava, se pintava
de estações
e o nosso silêncio era normal
e o silêncio do rapaz, da loucura
suas expressões

o homem que andava e se pintava
de estações.

sexta-feira, 24 de março de 2017

das despedidas, I

indo e vindo
chegando a partida
ido e vivido
o silêncio vem 
cobrindo a vida.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

[Tu e Eu]*

Feliz o momento em que nos sentarmos no Transcol,
dois corpos, dois semblantes, uma única alma
- tu e eu.

E ao adentramos em Jardim América, os calores da cidade
e a voz dos passageiros nos farão imortais
- tu e eu.

As filas do terminal virão contemplar-nos
e nós lhes mostraremos o coletivo
- tu e eu.

Tu e eu, não mais separados, fundidos em êxtase,
felizes e a salvo de andar em pé
- tu e eu.

Pães de queijo com goiabadas nos cestos
por inveja perderão o encanto
no lugar em que estaremos a rir
- tu e eu.

Eis a maior das maravilhas: que tu e eu,
sentados aqui neste recanto, estejamos agora
um no terminal de Carapina, outro no Ibes
- tu e eu.

* Adaptação livre e irresponsável do poema de Jalal ud-Din RUMI a partir da tradução de José Jorge de Carvalho in Poemas Místicos - Divan de Shams de Tabriz. São Paulo: Attar Editora, 1996, p.59

quinta-feira, 24 de março de 2016

mil alunos
fizeram a fila do ru
dar oito dobras
sob o céu

e a serpente
se moveu ao
redor das
sombras

dez mil pés
ante a catraca
a última curva
antes da
paçoca.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

De como a situação da Ufes no verão serviu como fonte de metáforas para cantar as saudades...

I
Largada ao recreio da vida
A saudade cresceu 
Como o mato incultivável que se espalha por todo entre-vão
Entre restaurante, reitoria, ic's, cemunis, biblioteca
O mato cresce, vai ao céu, se espalha horizonte, chega ao portão.

II
Tocando toda pele
A saudade punça
Como ferem os mosquitos, micuins, borrachudos que entre-voam
Rodopiam entre braços, pescoço, ombro, mordem-pernas
Os insetos voam, veem o céu, se espalham, pousam nossa-mão.

III
Sombreando o tempo
A saudade encobre
Como as folhas das árvores que tapeteiam sobre-chão
Dançam ao redor do tronco, sob esguelhados galhos
As folhas vão, contra-céu, espalhadas, sol-de-verão

IV
Hoje a grama foi cortada;
Mas quem arrancará nossa saudade?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A cigana ruiva

Pequeno raio vermelho de Sol
Andas feito os trânsitos lunares
Quando chegas a mim, chega
De bebida, o vinho não velho
Nem tão pouco vermelho como
São, pois, os vermelhos de teus 
cabelos;
Cigana, raio que vai embora. 
ô, Ruiva.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

em todas capitais
onde reza
o princípio das 
moradas verticais
contemplo a espera
do dia
no qual os suicidas
que se jogam dos prédios
sejam
os próprios prédios

e
isto é difícil.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

gato na varanda do apartamento
quando for-me embora
guardo-te no meu esquecimento

domingo, 6 de dezembro de 2015

ois, domingos

evém o transcol
de algum lugar para outro
vem pegando na avenida
aracelli
ele, ela, 
eu, nós
carregando tudo
evém o transcol
na sua carcaça metálica
carrega armazenado os raios
de calor
as ventoinhas ligadas
evém o transcol
em um único domingo de dezembro
o vasco vence, o vasco cai
os tritões para sempre, laranja, 
em nossos corações
mas o transcol do domingo de dezembro
queima como dói
como dói queima
eu derreteno as fuças
gente indo pro serviço
gente voltando do skate
gente indo para praia
gente fervendo de calça
ou saia.

evém o transcol
no domingo mais quente 
de todos os dezembros
os tritões de vila velha
laranja em nossos corações
continuará vencendo

noite cai, o vasco cai
o sol saiu do céu
mas seu calor
ainda me derrete
em plena noite sem estar enluarada
enlutada

para onde foi aquele transcol?

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Se o Vento
Com seu andar estonteante
Pode derrubar fortes monumentos
O que ele mesmo não fará? 
Quando se tratar de arremessar
Caieiras 
Santo Antônio
Centro.

flutuas flume

Marina, na beira do rio tem um mar
e dentro do mar corre um rio;
Marina, na beira do nada tem rima
e dentro da rima um navio;

Marina, no marulho das águas maré
e no barulho do flume as águas;
Marina, na marcha da vida a pé
e no fim dessa marcha má rima.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

musatemática

àquela que matema,
que me ensina
o porquê deste poema
àquela que matiza,
que revela
a flor da poesia.

àquela que passa,
todos os dias
e que nos seus passos,
mostra o que são
puras harmonias.

àquela que tem 
o olhar mais vago
que parece procurar
o amor que vem.

àquela moça 
apoteótica
pura musa 
matemática
àquela morena
dou-lhe o amor
vestido em poema.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

mineiro entre minérios

o minério vagueou e
repousou sobre meus pulmões mineiros;

o mineiro que sou, 
sentiu a pesada camada de minério;

o minério irritou
quando olhava a praia que atrai mineiros;

os mineiros andaram
pela praia, os pés derraparam em minérios;

o minério se adensou e
pesou a batida do meu coração mineiro.

domingo, 30 de agosto de 2015

chega o fim de agosto

contei na metragem setecentos e cinquenta
mais de setecentos e cinquenta pescadores

participavam todos eles de um campeonato
onde todos permaneciam bem posicionados

era uma noite de lua arredondada no litoral
e pensei que a gema fosse até uma das iscas

setecentos e cinquenta pescadores agitavam
uma maquinaria defronte ondas maquinais

o oceano era a panela ofertando seu cardume
e as trepidações do mar davam marés rítmicas

e os setecentos e cinquenta pescadores davam
uma pescada de olhares em esperas sonoríferas

e todo o campeonato estava nisto pressuposto
dormir em pé pescando os peixes pelas linhas

e todo o campeonato estava nisto arquitetado
a morte de peixes vivos que não vinham dados

e toda praia ontem estava sob luz alaranjada
peixe no mar, povo nas areias e nas calçadas

e a lua alaranjada era um peixe a ser pescada
por gente, por amores, por amor e namoradas.

sábado, 1 de agosto de 2015

é a que veio

amar vamos
amávamos 
amor vamos ao mar?
assim convidei Eleonora, a capixaba
naquela roseada tarde
para salvar o breve rosa
que ainda restava em Manguinhos.

nos transcóis - quantos carinhos!
nos arrebóis - quantos sorrisinhos!
sob os sóis só nós sós <3 font="">

mas tudo isso era desatino
não foi esse o meu destino

esse poema era mentira
da cabeça cabeleira-lisa-negra
até as solas dos pés
de um extremo ao outro
Eleonora, o corpo.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

a caixa postal oculta

o fantasma vem surgindo sobre o mar
cortando lento a linha ora confusa
que a noite colocava entre as águas e o céu
tudo em pausa e então se revela vertical paisagem 
confluindo em passagem luminosa flotilha - outros fantasmas
àquele flutua em companhia, ando, outros pontos
o coqueiro-me, o porto longe-me, no infinito-me a lua
prateada - quem dera - luminosa revelara-se esfera
a prata não confessada 
que os navios de minério não portava
a prata não declamada
que a lua de cobre não doirava
luminares que as visagens carregavam
aglutinavam-se em pequeno esquadro
armado em meio ao minério que pelo ar andava

também eu
andava
então,
olhava 
pensava 
se aquilo
eu notara
e nem por isso menos
pasmava
que aquilo que por hora lá estava, sumia, mas voltara
as navegações de aço armavam como se fossem distantes
e fantasmagóricas casas, o conjunto por si só plasmava
a rua de um suposto quarteirão fantasma.

sábado, 25 de julho de 2015

Aos olhos da Vitória amada

Penso nos anúncios que me aproximam
Da tua alta e distinta presença - per-feita
Perfilada em esguia silhueta magistral
Se fossem os cabelos tão encaracolados 
Feito a noite que encobre as pedras e os prédios
Os cabelos de Vitória seriam uma noite sobre
Os tais olhos que eu olharia demasiadamente 
Demorados ao me ver. Ao meu ver: 
Vitória me olha de algum lugar.

Aos olhos de Vitória fico entregue.
E é mesmo possível que o olhar se estenda ao infinito.
Que vá às vizinhanças estaduais
Rio de Janeiro
Onde o rio é mais bonito.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

um amor de pedras

você, ser descentrado
tende achar logo o tanto antes o seu centro
tal qual vitória fez daquele
o parque o moscoso o ser adentro
você, que é sem centro
que atravessa pontes
que entorta curvas
e sente as chuvas
como as pedras
são lavradas
como as pedras
sentem chuvas
e por elas, pouco a pouco
são levadas
você ser sem centro
tal qual imóvel Guaraci
contemplando entre cidades 
a eterna imóvel Jaciara

você ser que não tem mais centro
e perdeu toda a referência nessa cidade
muda o nome e imóvel quedará
sua aprendizagem do silêncio lhe dá mestria
você agora é o Mestre Álvaro
e ela, a imóvel Mochuara, talvez um pranto verteria.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

é incrível que ainda não houvesse
sido lançado um manual
desses simples e mal-feito
que a gente costuma verachar
nas bancas de jornal e JP
tinha muitas bancas-broncas-brancas-pretas-azuis-amarelas-bancas de jornal.

um manual que desse conta 
(ao menos porcamente ilustrado)
que contasse quantas ruas, quantas placas, quantas praças, quantas rotas
quantas esquinas, quantas certas ou quantas tortas avenidas mortas
que não tinham fim que não tinham contra-mão ou contra-nós a contra-mão.

um manual
que fosse em papel ou pdf
ou original ou pirata
da prefeitura ou da associação de bairros legalmente ou ilegalmente organizada
um manual que desse conta
desse bairro
que tivesse uma parte aberta
escrito "anotações" onde a gente anotaria
todas as vezes que estivéssemos perdidos
ou desencontrados - tanto faz - se fosse a perdição de endereços
ou de amores, tanto faz.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

ir à ufes

ir à ufes em dias de chuva
e lá ilhar-se
e ilhar-se lá
ir à ufes e por lá ilhar-se
sem pôr do sol para ver
se o sol do pôr põe-se lá
a ufes é uma ilha cercada
por águas de concreto e carro
noutro lado cerco de água e barro

a ufes é ilha de ilhar...